domingo, 14 de outubro de 2007

Eu nunca soube
Eu nunca soube que tudo estava despencando
Que todos que eu conhecia estavam esperando em uma fila
Para virar e correr, quando tudo que eu precisava era a verdade
Mas é assim que tem que ser

domingo, 23 de setembro de 2007

Estou perdida no silêncio. Manhã alguma trás ameaças ao meu sono. Sou noite pura. Sem dúvidas e medos: a desconfiança descuidada, mantém-me assim, vagamente sorrindo, perigosamente de pé. Gestos sem herdeiros, tanto melhor... Ninguém haverá de repetir gestos inúteis, acenos vazios e sem sentido. Melancolia. Sou essa inquietação legível. Ansiedade. Mas fui sempre o que não está escrito: uma irreconciliável vontade de ser. Entre paredes diversas, vivi o limite de apenas algumas das tentativas possíveis. Joguei quase todas as cartadas. Talvez só não as decisivas... Paciência: estive sempre perto, estive quase sempre querendo estar certa. Invariavelmente, porém, fiquei aturdida com os desafios e calculei mal as distâncias.Quem se perde no silêncio não tem escolha, por mais que a vida reserve tempo a sua perplexidade. Minha vida, antecipadamente embora com tão pouco tempo, está sobrecarregado de história: Esperança de um futuro melhor. Em troca, dedico-me a colecionar hipotéticos passados; reunir inúmeros enredos, refazer enredos antes abandonados, para não errar novamente. Quem se perde no silêncio pode tudo, desde que muitas vezes seu sorriso esconda o medo de pedir ajuda e um abraço... Cultivar silêncios, insemina lacunas, celebra ausências. Quer ver em tudo uma evidência de sua própria existência passada e assim impõe o mofo de sua cega presença ao frescor de qualquer paisagem. Um ser passivo. A infinita evidência de sua dor ocupa todos os lugares. Não exatamente por sua vontade. Isso cansa porque vira um sentimentalismo exagerado, fora de controle.Quem se perde no silêncio tem inúmeras dificuldades para se dirigir às pessoas. Sua íntima compulsão à fala torna-se muda diante de quem parece sempre incapaz de escutá-la. O que dizer a quem crê inabalavelmente no próprio destino como num dado? Entre a impaciência e a ironia, eu perdida no silêncio não acredito mais numa pretensa inocência. Chego a ser incapaz de discernir a inocência real. Talvez porque seja perigoso expor a alegria fictícia de meu sorriso de escárnio à gargalhada irresponsavelmente demolidora dos jogos infantis. Talvez porque dessa forma seja obrigada a perceber e admitir a verdadeira estratégia da minha vida: atravessar os anos com um vácuo dentro de mim, vácuo no sentido de guardar demais as coisas, não dizer nada e deixar passar momentos que levem a oportunidade de expressar alguma coisa.Eu, perdida no silêncio corro sempre o risco de se ausentar subitamente. Minha presença pode ser, para quem porventura me acompanhe, somente um índice de minha distância. A distância real. Eu não creio na separação, assim como não creio no encontro. Mas eu tenho medo de dizer adeus. E na ausência, refugio-me no silêncio. Pois este é o mais solene palco em que poderia cultivar o sempre trago comigo: esse meu jeito de viver em um conto de fadas. Prazer, meu nome é Mayumi.